Imagina que és dono de um país e que não tens de te preocupar com o défice ou em recuperar tempos de serviço. Tens dinheiro para investir! Entre os teus conselheiros vão surgindo ideias: e porque não uma cidade vertical? e porque não cidade cultural e histórica? E porque não uma cidade voltada para o desporto? E por aí adiante…
Somando a isso, tens a capacidade para contratar os melhores de cada área para te apresentar projetos e… sonhas. Tens uma visão. E em 2016 a Arábia Saudita lançou um plano estratégico a que chamou Visão 2030. Com ele a Arábia Saúdita pretende diversificar a economia do reino e torna-la menos dependente do petróleo, até ao final desta década.
A Arábia Saudita chegou a esta lógica de investimento no desporto mais tarde do que os seus vizinhos. O Qatar fê-lo logo no início do século. A estratégia foi transversal à sociedade com a construção de infraestruturas, aposta em fomentar o desporto desde tenra idade, a criação de um canal de televisõa desportivo com alcance a toda a região de Médio Oriente e Norte de África (Bein Sports), a aquisição do PSG e, também, a contratação de estrelas para o campeonato de futebol local. Pep Guardiola, por exemplo. O ponto alto desta aposta foi a organização do Mundial de futebol em 2022.
Os Emirados Árabes Unidos também foram procurando atrair jogadores e treinadores estrangeiros e receber grandes eventos desportivos, mas sobretudo garantiram um posicionamento forte no futebol internacional alicerçado na compra do Manchester City e na expansão do grupo para várias latitudes.
O projeto Qiddiya
Entre os projetos da Visão 2030 está Qiddiya, uma cidade vocacionada para o desporto, lazer e entretenimento.
É perto de Riade, numa área de 600 mil hectares, que vão construir um novo autódromo (capaz de receber a Formula 1), um estádio de futebol (com o Mundial de 2034 em vista), um destino para o e-sports, o maior museu Olímpico e o maior parque temático do Médio Oriente, fazendo dele parte a mais rápida, alta e longa montanha-russa.
Além disto, Qiddiya pretende criar mais de 325 mil empregos e acrescentar 36 milhões de dólares ao PIB, a cada ano, contando para isso com 600 mil residentes que vão viver em 160 mil habitações construídas de raiz e servidos por 15 hospitais, escolas e demais necessárias infraestruturas.
É provável que esta zona seja o epicentro, a confirmar-se, do Mundial de Futebol de 2034.
A aposta no futebol
Há quem condene a recente aposta saudita no futebol por não se centrar na base. São formas de ver. Também se pode pensar na quantidade de raparigas e rapazes que, inspirados de perto pela presença de grandes estrelas, decidam praticar futebol, em vez de Call of Duty.
Certo é que, nesta altura, é através de um fundo soberano que vários clubes sauditas protagonizaram o mercado de transferências, permitindo, por exemplo, ao Al-Hilal desembolsar um total de 353,1 milhões de euros, tornando-se na segunda equipa que mais gastou à escala mundial.
A aposta em jogadores de renome fez com que a liga saudita atingisse um outro marco histórico: o valor de mercado total de todos os jogadores que disputam o campeonato ascende aos 1180 milhões de euros.
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É um sonho. É uma visão. Só possível porque há dinheiro. E havendo dinheiro tudo fica mais fácil de executar.