O futebol consiste numa modalidade em que a técnica é apreciada, a táctica analisada mas em que o número de vezes que a bola entra na baliza determina o ângulo sob o qual se vai analisar o jogo. Posto isto, acompanhem-me numa viagem sobre um campeonato que não se tornou conhecido pela técnica dos seus jogadores nacionais, pela táctica das suas equipas nem pelo número abismal de golos concretizados em cada jornada.
Se há coisa que tornou conhecido este campeonato foi o investimento avultado em bons jogadores, sendo Ronaldo, obviamente, um dos principais nomes.
Se há algo que anima os mercados de transferência é a capacidade que os donos dos clubes deste campeonato têm em comprar jogadores, gastando milhões.
Se o produto em teoria é bom, naturalmente os direitos de transmissão do campeonato despertem interesse em mais países, rentabilizando e justificando cada euro gasto em estrelas.
Chegados aqui pergunto-vos:
A que campeonato me refiro?
Não. Não é ao da Arábia Saudita mas sim à “querida” Premier League.
Quase todas as criticas ocidentais apontadas ao campeonato saudita refletem no espelho inglês.
Senão vejamos… Só no último mercado de transferências esse campeonato gastou 2807 milhões de euros. Em contraponto, a Saudi Pro League investiu 954…
Foi em Inglaterra que se fizeram os negócios mais caros. Declan Rice trocou o West Ham pelo Arsenal por 116,6 milhões de euros e o Chelsea contratou Moisés Caicedo ao Brighton por 116 milhões. A contratação mais cara da Arábia Saudita surge em sétimo, com os 90 milhões pagos pelo Al Hilal ao PSG.
O defeso histórico da liga saudita continua a ser surpreendente. Todavia, acusar que estão a inflacionar o mercado e que o dinheiro provém de regimes pouco democráticos é ignorar, por exemplo, o que Abramovich protagonizou no Chelsea ou Florentino Perez no Real Madrid, referindo apenas dois exemplos que o tempo deixou amadurecer para melhor análise, e que dos 20 clubes atualmente a disputar a Premier League, três são propriedade de cidadãos da península Arábica e outros três de países muçulmanos (Manchester City, Newcastle, Sheffield United, Aston Villa, Everton e Fulham).
Num país que surpreendeu o mundo no último campeonato disputado no Qatar vão agora jogar Benzema, Firmino, Sadio Mane, Mahrez, N’Golo Kanté, Malcom, Mitrovic, Fabinho, Milinkovic-Savic… A qualidade dos jogadores sauditas acabará, a longo prazo, por sair beneficiada. Veja-se o exemplo inglês. Quando a Premier League começou a torrar milhões, a seleção nacional sofreu. Falhou fases finais de campeonatos da europa e mundo. Apesar da qualidade do jogador inglês continuar a ser baixa, a seleção nacional inglesa conseguiu renascer das cinzas e justificar um pouco melhor a estrela que usa no símbolo.
O interesse televisivo que a Premier League desperta no mundo inteiro acaba por variar com as equipas da moda. Há vinte anos todos queriam ver o Arsenal e o Newcastle. Há dez eram os jogos de Manchester United e Chelsea. Hoje todos querem ver o Manchester City e Liverpool. Por cá, a Sport TV tem os direitos da liga turca e Jorge Jesus já saiu há uns meses de lá. Agora tem da Liga Saudita e provavelmente vai manter além da passagem de Cristiano Ronaldo pelo país.
Apesar de todas as discussões em cafés ou virtuais, a realidade demonstra que a Arábia Saudita arriscou, investiu e daqui a uns dez anos saberemos se os frutos desta colheita agora plantada são bons ou como os dos chineses.
Até lá peão para d4…